O Novo Ensino Médio é uma reforma educacional proposta pelo
Governo Federal que tem como objetivo principal torna-lo mais atrativo para os
estudantes, a fim de reduzir os altos índices de evasão escolar, desinteresse e
repetência que assolam as escolas brasileiras. No entanto, essa mudança é
bastante controversa e tem gerado muitas discussões entre os educadores,
estudantes e especialistas em educação. Neste artigo, discutiremos os
principais pontos do Novo Ensino Médio e suas implicações para a educação
brasileira.
O primeiro ponto a ser abordado é a questão da liberdade de
escolha do estudante em relação ao currículo escolar. De acordo com a proposta,
o aluno terá mais autonomia para escolher as disciplinas que irá estudar, com
exceção das matérias obrigatórias, como Matemática e Português. Essa medida tem
como objetivo tornar o ensino mais personalizado e atraente para os jovens, mas
ela também traz alguns desafios. A primeira questão é se os estudantes estão
preparados para escolher o currículo que irá determinar sua formação básica.
Será que eles têm conhecimento e maturidade suficiente para construir essa
trilha? Além disso, existe o risco de que os alunos escolham apenas as
disciplinas que consideram fáceis ou que não gostem, o que pode comprometer a
formação integral e o desenvolvimento de habilidades importantes para a vida
adulta.
Outra questão importante é a mudança na essência dos
conceitos de educação e ciência que o Novo Ensino Médio propõe. Desde a Grécia
Antiga, o currículo escolar é composto por disciplinas consideradas essenciais
para o desenvolvimento da educação, mas essa proposta promove uma mudança
radical nesse sentido. As mudanças do Novo Ensino Médio não atingem apenas a
carga horária e os conteúdos, elas transformam a essência dos conceitos de
educação e ciência, reformulando todas as ideias sobre a aquisição de conhecimento.
Isso traz consequências profundas para a educação brasileira, pois pode afetar
a formação dos estudantes e a qualidade do ensino oferecido.
Um terceiro ponto importante é a questão da
interdisciplinaridade, que é um dos pilares do Novo Ensino Médio. A proposta
incentiva a interação entre as diferentes áreas do conhecimento, o que pode
contribuir para uma formação mais ampla e integral dos estudantes. No entanto,
essa abordagem também tem seus desafios. O conhecimento produzido pelas
ciências é rigoroso e preciso, e a interdisciplinaridade pode levar a uma
diluição dos conteúdos estudados, tornando-os superficiais e pouco relevantes.
Além disso, a interdisciplinaridade pode gerar uma transformação reducionista
de cada ciência envolvida, tornando-as incapazes de apresentar estudos
relevantes sobre seu próprio objeto de estudo.
Outro ponto a ser discutido é a questão da formação dos
professores. A partir do Novo Ensino Médio, não existirá mais o professor
especialista em uma determinada disciplina, todos serão “especialistas em
generalidades”. Isso significa que a formação e licenciatura em disciplinas
específicas podem deixar de existir, e as formações serão por áreas de
conhecimento, como linguagens, ciências humanas e ciências da natureza. Essa
mudança também trará consequências para a formação inicial e continuada dos
professores, que precisarão de uma preparação mais ampla e generalista para
atuarem em um ambiente interdisciplinar.
As mudanças no novo Ensino Médio não se limitam apenas à
carga horária e aos conteúdos. Elas transformam a essência dos conceitos de
educação e ciência, reformulando todas as ideias sobre a aquisição de
conhecimento.
É contraditório que os jovens, que sempre foram
“vitimizados” por terem que escolher a profissão que abraçarão tão jovens,
agora sejam desafiados a definir o currículo que irá determinar não somente o
seu futuro profissional, mas, principalmente, sua formação básica. A primeira
questão a ser formulada é: eles estão preparados para isso? E, em segundo
lugar, têm conhecimento e maturidade suficiente para construir essa trilha?
Um dos principais argumentos para essa reforma é que o mundo
mudou, e os jovens mudaram junto com ele. O Ensino Médio tradicional já não os
atrai, gerando desinteresse, evasões, repetências e desistências escolares. A
proposta do “Novo Ensino Médio” procura agradar o gosto dos jovens, dando-lhes
mais espaço para o “protagonismo juvenil”. Isso significa, inclusive, dar-lhes a
liberdade de escolher o que querem estudar, ressalvadas as únicas disciplinas
obrigatórias: matemática e português.
No entanto, a questão não é apenas sobre dar liberdade de
escolha aos alunos, mas sim se essa escolha é a mais adequada para a sua
formação e para a sociedade como um todo. O objetivo da escola é formar
cidadãos críticos e conscientes, capazes de contribuir para o desenvolvimento
do país. Será que a escolha individualista é o caminho para isso?
Outro ponto de discussão é a interdisciplinaridade, que é
levada às últimas consequências no novo Ensino Médio. O objetivo é acabar com a
ideia de professores especialistas e transformá-los em “especialistas em
generalidades”. A partir do novo Ensino Médio, não existirá mais professor
especialista em uma disciplina específica, mas sim por áreas: haverá professor
de linguagens, de ciências da natureza, ciências humanas e assim por diante.
A interdisciplinaridade é uma prática comum nas ciências,
mas quando levada ao extremo, pode ser superficial e diluir os conteúdos
estudados. Além disso, cada ciência envolvida na interdisciplinaridade sofre
sua transformação reducionista, tornando-se incapaz de apresentar estudos
relevantes sobre seu próprio objeto de estudo ou sobre o de outras ciências.
Essa mudança também levanta a questão da diluição dos
conteúdos estudados. Desde a Grécia Antiga, existe um currículo fixo e
considerado essencial para o desenvolvimento da educação: o Trivium (latim,
lógica e retórica) e o quadrivium (aritmética, geometria, astronomia e música).
Cada época elegeu as disciplinas consideradas essenciais. Essas disciplinas
sempre foram consideradas as “ferramentas” com as quais se construíam os demais
conhecimentos de uma dada sociedade. Elas foram, ao longo da história, sofrendo
acréscimos até chegar à configuração atual, em torno de 20 disciplinas obrigatórias
no currículo escolar brasileiro.
No entanto, com a implementação do Novo Ensino Médio, a
diluição dos conteúdos estudados é uma possibilidade. A flexibilização
curricular, que permite a escolha de itinerários formativos pelos estudantes,
pode levar a uma diminuição da carga horária das disciplinas consideradas
tradicionais e fundamentais, como português, matemática, história e ciências.
Além disso, a escolha dos itinerários pode priorizar temas mais específicos e
pontuais, deixando de lado uma formação mais ampla e abrangente.
Essa questão preocupa muitos educadores e especialistas em
educação. A formação ampla e diversificada é essencial para o desenvolvimento
crítico e reflexivo dos estudantes, permitindo que eles possam compreender e
analisar diferentes realidades e contextos. Além disso, é importante lembrar
que a educação não deve ser vista apenas como preparação para o mercado de
trabalho, mas sim como uma formação humana integral.
Diante dessas possibilidades e desafios, é fundamental que
os professores estejam preparados para atuar no Novo Ensino Médio. Eles
precisam estar abertos a novas metodologias e práticas pedagógicas, que
permitam uma aprendizagem mais ativa e participativa dos estudantes. Além
disso, é importante que estejam sempre atualizados e capacitados para orientar
e acompanhar os estudantes na escolha dos itinerários formativos, garantindo
uma formação completa e significativa.
O Novo Ensino Médio traz consigo mudanças significativas e
desafios para a educação brasileira. Cabe a todos os envolvidos, gestores,
professores, estudantes e familiares, trabalhar juntos para garantir uma
formação de qualidade e integral, que prepare os estudantes para os desafios da
vida e do mundo do trabalho, e que contribua para o desenvolvimento da
sociedade como um todo.
Além disso, a ênfase pós-moderna do Novo Ensino Médio conduz
à “interdisciplinaridade” levada às últimas consequências, ao ponto de um
professor de Sociologia, por exemplo, ensinar sobre a origem do universo. A
interdisciplinaridade é importante e necessária, mas tem seus limites. Quando levada
ao extremo, o conhecimento produzido pode se tornar superficial e cada ciência
envolvida na interdisciplinaridade pode se tornar incapaz de apresentar estudos
relevantes sobre seu próprio objeto de estudo e o de outras ciências. Além
disso, tal atitude gera uma diluição dos conteúdos estudados.
A partir do Novo Ensino Médio, não existirá mais o professor
especialista em uma disciplina específica; todos agora serão “especialistas em
generalidades”. Provavelmente, restarão de disciplinas específicas somente as
obrigatórias: matemática e português. Isso pode ser uma ameaça para a qualidade
do ensino, já que não haverá mais a especialização de um professor em uma
determinada área do conhecimento. Por exemplo, um professor de história, que é
especialista em história, agora pode ter que lecionar também sobre geografia e
sociologia, áreas que ele não é especialista. Isso pode prejudicar a qualidade
do ensino oferecido aos alunos.
Por fim, é importante mencionar que a pressa na tramitação
da lei que criou o Novo Ensino Médio foi estranha. A lei foi votada na forma de
Medida Provisória, em vez de Projeto de Emenda Constitucional (PEC), que
levaria mais tempo para ser votada e seria de mais difícil aprovação. Isso
limitou a discussão sobre o teor e as consequências do Novo Ensino Médio. A
discussão é necessária e deveria ter acontecido antes deste projeto virar lei.
Agora, só resta esperar para ver para onde o Novo Ensino Médio vai levar a
educação brasileira.
Neste sentido, o Novo Ensino Médio se propõe a fazer uma reforma
na educação básica para agradar aos jovens e suas demandas. No entanto, algumas
das mudanças propostas podem prejudicar a qualidade do ensino oferecido. A
liberdade de escolha de disciplinas pelos alunos pode gerar desorganização e
falta de coerência no currículo. A interdisciplinaridade pode gerar um
conhecimento superficial e diluído. A falta de especialização dos professores
pode prejudicar a qualidade do ensino oferecido. É importante que a discussão
sobre o Novo Ensino Médio continue, para que se possa avaliar melhor suas
consequências e, se necessário, fazer ajustes para melhorar a qualidade do
ensino oferecido aos jovens brasileiros.
Este artigo foi baseando em https://www.sinteal.org.br/2022/03/artigo-o-novo-ensino-medio-uma-reflexao-critica/