Desde os primórdios da humanidade, os padrões de beleza
estavam geralmente ligados à saúde e à fertilidade, como uma questão de
sobrevivência. Nas sociedades antigas, como as do Egito, Grécia e Roma, a
beleza estava intimamente ligada à proporção e simetria, refletindo um valor
intrínseco de ordem e harmonia. Entretanto, essas normas não eram universais e
variavam de cultura para cultura. Na antiga China, por exemplo, os pés pequenos
eram considerados belos, levando ao doloroso costume de vendar os pés das
meninas para impedir o seu crescimento.
Ao longo da Idade Média e do Renascimento, a concepção de
beleza continuou a evoluir, incorporando elementos de pureza, divindade e
virtude. Mais tarde, durante a era vitoriana, o ideal de beleza frequentemente
associado à delicadeza, palidez e submissão, refletindo as expectativas sociais
para as mulheres naquela época.
Na sociedade contemporânea, o conceito de beleza continua a
ser moldado, em grande parte, pela mídia e pela indústria da moda. No contexto
cinematográfico, percebe-se uma forte imposição de padrões estéticos que se
propagam globalmente. A predominância de personagens com características
ocidentais, magros, altos, de pele clara, perpetua um ideal de beleza que não
representa a diversidade e a riqueza das diferentes culturas e etnias
existentes no mundo.
Esta imposição de uma beleza normativa e homogênea por meio
do cinema não afeta apenas a representação de pessoas, mas também se estende à
cultura, às línguas e aos cenários retratados nos filmes. Frequentemente,
cenários exóticos e pitorescos são apresentados como meros pano de fundo, sem
explorar a profundidade e a complexidade de suas histórias e culturas.
É importante lembrar que a beleza não é uma verdade absoluta,
mas um construto social sujeito a mudanças e interpretações. A beleza está nos
olhos de quem vê e é influenciada por nossas experiências, vivências e
contextos sociais. Precisamos desafiar a noção de que a beleza é um padrão fixo
e inalterável, e, ao invés disso, promover uma perspectiva mais inclusiva e
diversa da beleza.
Podemos dizer que a verdadeira feiura reside no preconceito,
na estreiteza de mente que rejeita a diversidade e insiste em uma única
definição de beleza. A verdadeira beleza reside na diversidade, na inclusão e
na aceitação das diferenças. Enquanto conseguirmos ultrapassar os preconceitos
e aceitar a pluralidade de conceitos de beleza, estaremos caminhando rumo a uma
sociedade mais equitativa e inclusiva.
A mudança começa ao questionarmos as normas impostas e as
representações unidimensionais de beleza que nos são apresentadas. Na arte, na
mídia, na literatura e em todas as formas de expressão cultural, precisamos
buscar e promover imagens e narrativas que reflitam a rica diversidade da
experiência humana. Precisamos quebrar os estereótipos e desafiar a noção de
que apenas um tipo de rosto, corpo, cultura ou idioma é digno de ser
considerado belo.
Podemos também fazer a diferença em nossas interações
cotidianas, escolhendo nossas palavras e ações com cuidado, de modo a não
reforçar estereótipos negativos ou normas de beleza restritivas. Devemos fazer
um esforço consciente para valorizar e respeitar a beleza em suas inúmeras
formas e expressões.
A beleza é um reflexo do espírito humano em toda a sua
variedade e complexidade. Seja na singularidade de um rosto, na melodia de uma
língua, na riqueza de uma cultura ou na vastidão de uma paisagem, a beleza pode
ser encontrada em todas as coisas se olharmos com olhos livres de preconceitos.
Portanto, que possamos romper com as amarras do preconceito e abraçar a verdadeira beleza em sua forma mais autêntica e variada. Que possamos lembrar que a feiura real reside não na aparência física, mas no preconceito, na intolerância e na recusa em aceitar e celebrar as diferenças. E, acima de tudo, que possamos entender que a beleza, em todas as suas formas, é um direito de todos e não um privilégio de poucos.